terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ousadia Nominal

 Poderia eu, mil lábios beijar; mil corpos sentir; mil sensações experimentar. Não é, e nem tenho a audácia de pensar que seria a mesma coisa.
 Será ainda tão fútil tentar lhe contar, tão insignificante? Eu não preciso, não quero, não posso mais deixar entre versos – eu sinto tanto a sua falta –.
 Sufoco-me. Deveria eu, ainda alimentar minha saudade com inúmeras expectativas e incertezas?
 Saudade. Nada mais que meus olhos fechados – sua mão, seu olhar, seus lábios mentalmente guardados –, e junto a essa projeção, vejo perfeitamente seu movimento. Como dói.
 Derramo minhas lágrimas amargas, marcadas por um sentimento clandestino, e deixo-as nesse papel, pois ao meu redor não vejo ninguém. Estou só. Eles, que estiveram, importam-se demasiadamente com futilidades alheias. Quanto a mim, torno-me estranha ao meio.
 Estranha, pela minha preocupação com o desinteresse pela realidade. Estranha, pela crítica que faço a eles, hipócritas, que dos outros muito dizem, mas ao cessar dos sons, ao piar da coruja e ao chegar a escuridão, muito fazem. Acabei tornando-me estranha até para mim, pois não me reconheço mais. Não sem ao meu lado, você.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Lei de Gerson


 O que eu falo, não é só pelo seu fazer, e talvez eu nem seja a pessoa certa para isso, mas é tão notável a imbecilidade, que qualquer um falaria. Indignação. Como se já não bastasse à impertinência e o desastre físico, a prosa extrapola os limites do desnecessário. Não seja tolo, a crítica não é pelo desastre, afinal, não me diferencio muito. Mas se recebo face, não devolvo coroa; se é um desastre, não cobre beleza.
 Pudera falar e nada dizer, mas criticar? Qual é a moral?
 Com educação - privilégio que não tens-, lhe digo: São minhas escolhas e não devo explicá-las. Quanto ao meu distanciamento? Não é só pelos motivos e pelo repulso que sinto, é pela junção de toda a sua ignorância absurdamente ridícula. Muito dizes que também sente, mas é com gosto que se aproxima. Por quê? Falta conhecimento do sentido da palavra ou cultivas a mentira? Paranóia ou Mistificação?
 Seu gosto pela desordem, paixão pelo escárnio, quanto revelam... Pecador que aponta pecados alheios. Hipocrisia. Reflexo social – desinteresse e alienação de primeira –.
 Peso a peso, numa parte da balança coloco a sua ignorância, noutra, meu repulso. Recíproco.
 Bem, eu não gostaria de culpar as suas companhias, mas os fins justificam os meios. Olho com quem andas... Sei quem és. Ou suas companhias que deveriam olhar com quem andam?!
 Lavoisier que me perdoe, mas a inépcia é tamanha, que nem a natureza seria capaz de transformá-la. Exceção, contigo, tudo se perde.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Visita


 Desculpem-me, mas hoje não se trata de um devaneio, trata-se de uma verdade.
 Um compromisso torna-se absolutamente irreal e tolo, se o sentimento não for recíproco.
- Até quando terei que fingir? Proibido. Até que ponto é certo ou errado? Mentindo para todos, tentando enganar, esconder – que belo falso, tornei-me -.
 Críticas? Mas são as minhas ideologias, meus pensamentos. Não busco o agrado, pelo contrário, busco a verdade pura – a minha percepção; meu ponto de vista -. De vários ângulos posso entender o que muito analisei, o que muito ela tenta negar. O texto é uma fechadura a ser aberta. Para alguns, basta a chave. Enquanto para outros, olho na fechadura. E, diga-se de passagem, pouco me importa a sua prosa, seus versos, suas análises. FALSAS. Assim, como também não busco o entendimento real de todos.  Busco o entendimento do bom, caracterizado pelo autor como essencial, entretanto, não onisciente, e por isso da explicação anterior.
- Doutor, estou maluca? Afundo-me diariamente neste mistério, sem conseguir desviar-me. Pergunto-me: Quem, quem é que ainda esta ao meu lado, que ainda me apoia?
 Você, ele, elas, TODOS me abandonaram. A ovelha desgarrada, agora quer cair do céu. Permitam-me pedir perdão pela decepção, mas ultimamente tenho feito com um enorme prazer. E por quê? Ora, me responda você, mas primeiramente responda:
 - Por que seguir um padrão, se nem a vida o tem?
 Pouco me importa se a sociedade impôs, ESCARRO! Faço-o também, em todos vocês. E quanto a essa falsidade que tenta englobar de qualquer maneira um relacionamento, assim como fruto e casca, pode enganar aos outros, não a mim.
T. T. T
 O barulho da sua colher me incomoda, e não consigo ficar quieto nessa poltrona.
- Doutor? Dó menor, tudo acabou!
 Sangue, sangue e mais sangue em minhas mãos.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sépia

 
 Naquele mesmo quarto, ainda acendo o abajur antigo, e sento na velha poltrona estofada em couro preto – que muito bem conhecíamos–. Fumo o meu charuto, bebo amargamente a minha dose de conhaque e ligo a vitrola. À medida que a agulha encontra o disco, e as notas fluem, mais me afundo em mágoas e recordações, derramando lágrimas cheias de saudade. Ainda falta você.

Noite de Dezembro de 1987.
  As ruas estavam muito bem iluminadas devido a enorme quantidade de pisca – pisca que coloriam a cidade, trazendo graça e uma ótima sensação. As crianças cantavam canções natalinas, os meninos soltavam rojões, as famílias tomavam sorvete na praça. E nós, a caminho do meu apartamento.
 Uma excitação, um beijo de chegada. As chaves giram e a porta é fechada com o impacto do nosso encosto. Nossas roupas, no chão. Beijávamos e íamos derrubando tudo, até chegar ao quarto.
   A meia luz do abajur a deixava muito mais alva, e seus olhos, muito mais esverdeados. Impressionava-me o quão rosados e delicados eles eram. Perfeitamente de acordo com o resto do corpo. Seus longos cabelos negros beiravam as suas costas, marcada pelo seu quadril e a sua cintura, tão fina.
 Seu silêncio cochichava em meus ouvidos, penetravam, revelavam muito mais do que você poderia – se estivesse em condições- dizer.
Minha bela, minha menina, minha companheira de teatro. Sabia tanto de mim, conhecia meus mais profundos desejos, mesmo sem que eu relevasse-os.
A janela, escorria pelo nosso calor. E hoje, de olhos fechados, posso recordar o seu beijo, toque e olhar-chumbo-, penetrante.
 Incontestável, mulher de satanás. Surrealmente perfeita, paradoxalmente maquiavélica. Aos céus, e ao inferno levava-me.
 Aquela música, aquele quarto. Qual o sentido, senão você?